Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos aporta Coleção Alagoas Bicentenário
Coletânea é fruto de parceria entre Fapeal e a Imprensa Oficial e engloba 20 publicações produzidas a partir de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado
Deriky Pereira e Myllena Diniz
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e a Imprensa Oficial Graciliano Ramos enviaram vinte livros para a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. As obras, solicitadas pela equipe do órgão estadunidense, fazem parte da Coleção Alagoas Bicentenário e serão enviadas à sede da biblioteca em Washington, D.C.
As publicações resgatam trabalhos científicos – frutos de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado – selecionados com o intuito de ampliar a compreensão do Estado, ao longo de duzentos anos de emancipação política, a partir de diversas áreas do conhecimento. Entre os títulos, estão Negócios da escravidão em Alagoas: o comércio interprovincial de escravos em Maceió e Penedo (1842-1881), de Luana Teixeira, e (In)confidências alagoanas: mulher, família e sociedade na alvorada do século XXI em Arapiraca, de Jean Baptiste Nardi – ambos solicitados, nominalmente, pela Library of Congress.
A bibliotecária Maria Lúcia Machado, lotada no escritório do órgão no Brasil, explicou que a solicitação se deu pelo fato de que o tema dos livros interessa aos pesquisadores da Library of Congress. “Existe uma política de desenvolvimento de coleções dentro de assuntos de interesse. Os livros serão catalogados e processados no escritório do Rio de Janeiro e, posteriormente, enviados ao acervo da divisão hispânica em Washington, D.C.”, contou.
O diretor-presidente da Fapeal, professor Fábio Guedes, destacou que o envio desses livros faz com que a produção científica alagoana ultrapasse fronteiras e expõe os trabalhos desenvolvidos nos últimos anos pelos pesquisadores:“Esse é um registro importante da qualidade do material e da produção científica e acadêmica que Alagoas desenvolveu nos últimos anos, com o apoio fundamental do Governo do Estado, e que agora está ultrapassando as fronteiras do País, chegando a um público maior. É uma oportunidade de expor a realidade nordestina, alagoana, e o que nossos pesquisadores, especialmente nas áreas das Ciências Humanas e Sociais”, disse ele.
Para Maurício Bugarim, diretor-presidente da Imprensa Oficial, a solicitação do Congresso estadunidense reflete a valorização de um trabalho permanente de preservação da história e da identidade de Alagoas. “Temos não apenas a missão de guardar a memória do nosso Estado, por meio das publicações no Diário, mas de levar o melhor da história, da cultura e da ciência alagoana para o mundo, por meio da nossa editora. O interesse da Library Of Congress pela nossa coleção é o reflexo da qualidade das nossas publicações e do incentivo do governo estadual à comunidade acadêmica alagoana”, destacou.
Incentivo aos pesquisadores alagoanos
Além dos dois volumes com o selo da Fundação e da Imprensa Oficial que seguiram para as prateleiras da biblioteca estadunidense, também foram enviados mais 19 títulos publicados pelos dois órgãos, alguns dos quais em parceria com a Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal) e selecionados por edital.
Autora de Negócios da escravidão em Alagoas: o comércio interprovincial de escravos em Maceió e Penedo (1842-1881), a historiadora Luana Teixeira destaca a relevância da publicação, fruto de sua tese de Doutorado, para a compreensão da história de Alagoas. “O livro trata de um período importante, quando a cidade de Maceió se consolidava como principal centro econômico da província, mas Penedo ainda tinha um papel importante, especialmente devido à sua ligação entre o interior e o mar, por meio do São Francisco. Com o fim do tráfico internacional de escravizados, milhares de pessoas das regiões interioranas do Nordeste foram vendidas para o Rio de Janeiro e São Paulo”, ressaltou.
Segundo Luana Teixeira, mais de dez mil escravizados passaram pelos portos das duas cidades, nas últimas décadas da vigência da escravidão. “Esse trânsito forçado de pessoas desmembrou famílias, separou pessoas amadas e até crianças pequenas foram tiradas dos braços das mães por conta da cobiça humana. Foi tão cruel quanto o tráfico atlântico. Ao mesmo tempo em que o Brasil queria consolidar-se como uma nação moderna com um povo e uma identidade, ele oprimia e violentava seus filhos tratando-os como simples mercadorias”, esclareceu.
O contexto brasileiro é semelhante a outro processo desencadeado nos Estados Unidos, o que, para Teixeira, também justifica o interesse da Biblioteca do Congresso. Segundo ela, o relato de Solomon Northup, em 12 anos de Escravidão, que depois tornou-se filme, é um reflexo disso. “Inúmeros brasileiros viveram a mesma sina, de serem comprados, vendidos e também escravizados ilegalmente. Era uma ameaça constante com a qual as famílias negras tinham que aprender a conviver e a se proteger. Negócios da Escravidão em Alagoas busca apresentar para o leitor um pouco sobre essas pessoas, como viviam, como o comércio atingiu suas vidas e como elas buscaram formas de resistir à violência da escravidão”, avaliou a docente.
Como adquirir os livros
Os livros da Coleção Alagoas Bicentenário encontram-se disponíveis nas lojas física e virtual da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, com frete gratuito para toda a cidade de Maceió.
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