Bienal: Governo de AL e chef Mãe Neide lançam “Wa Jeun: Sabores Ancestrais Afro-indígenas”
Livro publicado pela Imprensa Oficial e a Secretaria de Estado da Comunicação, fruto da coleção Mulheres Extraordinárias, é sucesso de público na 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas
Myllena Diniz / Com fotos de Fabiana Santos
Um verdadeiro cortejo afro parou a noite deste sábado (19), na 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, para a passagem da chef Mãe Neide Oyá d’Oxum, autora de Wa Jeun: Sabores Ancestrais Afro-indígenas, publicado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, em parceria com a Secretaria de Estado da Comunicação (Secom). O momento marcou o lançamento da obra, que compõe a coleção Mulheres Extraordinárias, fruto do maior investimento do Governo de Alagoas em livros de autoria feminina.
Centenas de pessoas lotaram o maior evento literário e cultural do Estado, em busca do primeiro livro da ialorixá. Com o título Wa Jeun – cuja tradução, no yorubá, é “vamos comer” –, a obra é um convite ao melhor da gastronomia afro-indígena, com raízes nas comunidades quilombolas.
Com esta obra de caráter gastronômico, étnico e cultural, a ativista e premiada chef Mãe Neide pretende consagrar receitas tradicionais de povos pretos e indígenas de Alagoas, transmitindo conhecimento sobre a culinária do sagrado dos orixás e de suas ancestralidades.
“Este livro é para contar a história. É para você se conhecer, se pertencer afrodescendente. Ele nasceu, na realidade, da resistência da mulher preta, das cozinheiras do sagrado, das yabassés dos terreiros, das mulheres quilombolas, das mulheres indígenas, que transformaram os nossos ingredientes em alimentos. Daquelas que, muitas vezes, de um ovo, faziam um banquete”, destacou Mãe Neide.
Muito mais que um livro de receitas, Wa Jeun: Sabores Ancestrais Afro-indígenas, além de registrar a arte da premiada chef ialorixá, faz um importante resgate histórico, social e cultural. “Este livro, que hoje o meu Estado me presenteia com a edição, é a resistência do nosso povo. Está, aqui, um pouquinho da história do nosso povo. A palavra de hoje é fé, amor e gratidão. Agradeço ao Governo do Estado de Alagoas, que, ao publicar mulheres pretas quilombolas, está incentivando as pessoas a terem orgulho de ser da terra de Zumbi. Alagoas está se transformando, de fato e de direito, na terra da liberdade e da igualdade”, ressaltou Mãe Neide.
Ao longo de 130 páginas, os amantes da gastronomia têm acesso às mais diversas iguarias, entre saladas, pratos quentes, moquecas, farofas e receitas à base de frutos do mar e carnes, além de sobremesas e bebidas. O livro é acompanhado, ainda, de glossário e da explicação de termos ligados à cozinha do sagrado.
Na obra, também é possível conhecer a trajetória de vida da autora ialorixá, mestra do Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas, reconhecida também pela sua liderança religiosa e pelo seu trabalho assistencial. Mãe Neide brilha na gastronomia, na militância da causa negra e na defesa das religiões de matriz africana, tornando-se a única alagoana a ganhar o Prêmio Nacional Dólmã, considerado o “Oscar da gastronomia brasileira”, em 2018, com a releitura do prato da avó, servido para o povo quilombola.
De acordo com o diretor da Imprensa Oficial, Maurício Bugarim, a publicação do livro representa o compromisso do Governo de Alagoas com o resgate da memória alagoana e o respeito à diversidade. "O Governo do Estado tem a missão de garantir a pluralidade do nosso povo, nas suas mais diferentes formas de expressão. Neste livro de receitas, há um resgate das tradições negras e indígenas que, historicamente, foram silenciadas", salientou.
Wa Jeun: Sabores Ancestrais Afro-indígenas tem fotografia assinada por Rui Nagae, coordenação editorial de Patrycia Monteiro e projeto gráfico de Fernando Rizzotto. A obra encontra-se disponível nas lojas física e virtual da Imprensa Oficial Graciliano Ramos.
Lançamento
Para celebrar a publicação de seu livro, Mãe Neide reuniu centenas de pessoas na 10ª Bienal do Livro de Alagoas, para uma noite marcada por sessão de autógrafos, apresentação musical de sua filha biológica – Naná Martins –, degustação de buffet assinado pela chef, além de bate-papo com representantes das religiões de matriz africana e do movimento negro no Brasil.
Entre os presentes, estava a Mãe Nilce de Iansã, coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras de Saúde (Renafro) e Ebé do Ilê Omolu Oxum, no Rio de Janeiro. “Mãe Neide é minha irmã, amiga de muitos anos. Ela é coordenadora da Renafro em Alagoas e este momento é especial, pois está lançando um livro sobre seu saber ancestral, sobretudo, nesta época, em que estamos sofrendo o racismo religioso. Por isso, é importante que se mostre o valor do terreiro. Axé!”, avaliou.
A jornalista Nide Lins, que no livro Receitas das Alagoas já trouxe um prato assinado por Mãe Neide, destaca a importância de uma obra completa e exclusiva da chef. "Hoje, se eu quiser cozinhar algo, estará no livro de receitas da Mãe Neide. Eu sei que essas receitas têm uma história impressionante e que a Imprensa Oficial Graciliano Ramos e o Estado participaram, ativamente, desse processo”, comenta.
Mulheres Extraordinárias
A coleção Mulheres Extraordinárias, em parceria com a Secom, possui o maior investimento do Governo de Alagoas em obras de autoria feminina, na ordem de R$ 300 mil. Além de Wa Jeun: sabores ancestrais afro-indígenas, a coletânea engloba mais seis livros: Olho de Besouro, de Heliônia Ceres (1927-1999); Anil da cor do céu, de Anilda Leão (1923-2012); Razão Mutilada, de Edilma Acioli; Cor, som e sentido: a metáfora na poesia de Djavan, de Maria Heloísa Melo de Moraes; O Dom do Segredo - A negociação do Segredo Ritual nas Religiões Afro-alagoanas, de Larissa Fontes; e Em Pau d’Arco muitas flores – memória, território de parentesco e fronteira étnica, de Anna Kelmany Araújo.