Imprensa Oficial destaca obra de Octávio Brandão na Bienal do Livro
Roda de conversa reuniu especialistas para debater importância de ‘Canais e Lagoas’; “Obra emancipatória e atemporal”, dizem pesquisadores
Bruno Soriano
A Imprensa Oficial Graciliano Ramos teve uma participação de destaque na Bienal Internacional do Livro de Alagoas, realizada no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Maceió. E no domingo (09), último dia do maior evento cultural e literário de Alagoas, uma roda de conversa sobre o escritor Octávio Brandão encerrou a programação da Imprensa Oficial na 11ª edição do encontro cujo tema foi a confluência entre Brasil e África.
E para debater a vida e a obra do ilustre alagoano, a Imprensa Oficial reuniu cinco estudiosos, entre historiadores, professores e pesquisadores, que se debruçaram sobre ‘Canais e Lagoas’. O livro retrata o quão exuberante é o complexo estuarino lagunar Mundaú-Manguaba, destacando não apenas a riqueza de sua biodiversidade, mas também o potencial socioeconômico deste ecossistema para a região.
Lançada pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, em parceria com a Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), a obra conclama o leitor a viver o ambiente natural e a perceber a transformação da pessoa pela terra, como destaca o professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Arthur Curvelo.
“Octávio Brandão faz uma abordagem, inclusive, poética. Uma das passagens que mais me chama a atenção é o trecho em que ele compara o complexo a um coração, trazendo muitos dados geográficos e mineralógicos, mostrando, sob uma ótica emancipatória, como a nossa economia pulsava ao redor das lagunas. Trata-se, portanto, de um trabalho histórico e etnológico, mas também poético. É quase uma oração ofertada às lagunas”, avaliou o pesquisador.
Segundo Curvelo, outro fato preponderante é a preocupação social do autor. “Isso também o torna diferente dos demais intelectuais da época, porque ele cartografou esse espaço e trouxe o relato do povo, de quem está na base. É uma obra incontornável para quem deseja estudar a região das lagunas, reunindo um manancial de informações que fazem da obra não só um livro, mas também um valoroso documento, um testemunho da época”, emendou o historiador.
Quem também participou da roda de conversa foi a antropóloga Rachel Rocha, que lembrou, ainda, a importância do autor enquanto ativista político. “Não se tem como separar o sujeito da obra, que é atemporal e interessa a diversas áreas do conhecimento. Além de ter trazido preciosidades etnográficas, em Canais e Lagoas, Octávio deixa claro o seu desejo de desenvolver a região e, por conseguinte, proporcionar qualidade de vida àquelas pessoas. Ele impulsiona a luta por igualdade porque, naquela época, já era uma figura política extremamente importante”, comentou a também professora universitária.
Para a coordenadora editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, Clarice Maia, ter a obra de Octávio Brandão no catálogo de publicações da Imprensa Oficial é motivo de orgulho.
“Foi com imensa alegria que conseguimos reconduzir a obra de Octávio Brandão às prateleiras da Imprensa Oficial. E, nesta nova edição, trouxemos também algumas notas para explicar determinados termos usados pelo autor”, disse a coordenadora, destacando, ainda, a importância da Bienal do Livro – que serviu de vitrine para trabalhos de excelência, a exemplo de Canais e Lagoas, que pode ser adquirido na sede física da Imprensa Oficial (localizada à Avenida Fernandes Lima, bairro Gruta de Lourdes, em Maceió) ou por meio da livraria virtual.
Também participaram da roda de conversa os professores Edson Bezerra e Verônica Robalinho, além do curador da Bienal 2025, professor Eraldo Ferraz, que ressaltou a importância de se adotar ‘Canais e Lagoas’ como leitura obrigatória na educação básica, fomentando o senso crítico entre os estudantes das redes pública e privada de ensino.
Quem foi Octávio Brandão?
Alagoano de Viçosa, Octávio Brandão formou-se em Farmácia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas logo enveredou para a luta de classes ao difundir os ideais marxistas e, dessa forma, influenciar uma legião de militantes.
Precursor na defesa da reforma agrária e da jornada de trabalho de oito horas, incomodou, sobremaneira, a burguesia local, o que lhe rendeu, inclusive, ameaças de morte.
Libertário do Partido Comunista Brasileiro, foi perseguido e deportado no governo Getúlio Vargas, razão pela qual chegou a se exilar, por 15 anos, na extinta União Soviética. O escritor faleceu, em 1980, aos 83 anos, no Rio de Janeiro.