O injusto esquecimento de Breno Accioly
Em artigo publicado no Jornal Extra, José Sarney, ex-presidente da República, destaca importância da reedição do livro João Urso, pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Myllena Diniz
José Sarney, ex-presidente da República, foi o mais recente convidado do Jornal Extra a redigir a coluna Radar Literário, na edição de 23 a 29 de outubro. Na publicação, Sarney, que também é escritor, autor de O Dono do Mar e Saraminda, além de imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), avalia a relevância da reedição de João Urso, obra de Breno Accioly, com publicação prevista para este ano, pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos.
Abaixo, confira artigo na íntegra:
“O relançamento de João Urso, por parte da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, deve ser motivo de comemoração nacional. Infelizmente, a memória de nossos escritores não é cultivada como deveria. Os escritores de Alagoas estão entre os mais injustiçados. Sem dúvida, o maior deles, Graciliano Ramos, continua sendo bem divulgado e tem uma multidão de leitores. Mas o imenso Jorge de Lima, com sua sensibilidade mística e a perfeição formal que atinge em ‘Invenção de Orfeu’, apesar de muito lembrado em estudos acadêmicos, não chega ao grande público, em profunda injustiça — não bastasse a incompreensível rejeição da Academia Brasileira de Letras a seu nome.
E como esquecer a obra de Valdemar Cavalcanti? De Ricardo Ramos? Os estudos de Manoel Diegues Júnior e Théo Brandão? Aurélio Buarque de Holanda está muito presente por seu Dicionário, mas sua obra crítica foi esquecida; há alguns anos, reeditou-se a imensa obra que é o ‘Mar de Histórias’, mas não creio que tenha o público que merece para conhecer esse gênero difícil, que é o conto.
‘João Urso’ é justamente um livro de contos, felizmente agora lembrado por ocasião do centenário de nascimento de Breno Accioly. Breno foi uma personalidade complexa e muito rica, que a reedição deste seu primeiro livro, publicado inicialmente em 1944, começa a resgatar. Médico e jornalista, o escritor mudou-se para o Rio de Janeiro, enfrentando a imensa dificuldade de superar a negação da esquizofrenia que sofria e de reconhecer os episódios de crise, optando por períodos de isolamento. Faleceu muito moço.
O conto que dá título ao livro traz os principais registros de sua obra: a presença da loucura — Tristão de Athayde falava em ‘terrível campo de transição entre a luz da consciência e a outra luz da insanidade’ —, a angústia, a incompreensão pelo mundo, a incompreensão do mundo. O riso irreprimível e imensurável de ‘João Urso’, com suas consequências trágicas, é sublinhado por uma poesia que toca o mais fundo da alma humana: a poesia de um grande escritor”.
Lançamento
A Imprensa Oficial Graciliano Ramos vai lançar em dezembro próximo a obra completa de Breno Accioly. Morto em 1966, às vésperas de completar 45 anos, o escritor santanense deixou um legado literário formado por sete livros, dos quais dois permanecem inéditos, mas, finalmente, chegarão ao público leitor, em comemoração ao centenário de nascimento seu nascimento: o romance Pedras e a coletânea de contos Isabela.
Vale ressaltar que a gráfica e editora do Governo do Estado também apresentará novas edições dos títulos que Breno Accioly publicou em vida, os livros de contos João Urso, Cogumelos, Maria Pudim e Os Cata-ventos e o romance Dunas.